sexta-feira, 21 de maio de 2010

Hoje, não?

Ora, ora, vejam só, eu escrevendo por aqui.
Agora mesmo estava firmemente decidido a não escrever hoje.
Após isso, fiquei num grande conflito: escrevo ou não escrevo?
E agora, estou aqui. Escrevendo! Lindo, não?

Não, não é lindo.
Eu não queria escrever aqui porque sentia-me muito exposto. Sabia que estaria sendo muito pessoal, mais do que já sou normalmente.
Talvez não seja a questão de ser pessoal(pois, como já disse, assim sou sempre), mas sim de ser direto. Lembram de tudo aquilo que escrevi no último post?
Não serei totalmente direto, mas temo chegar perto disso.
Mas sabem, no fundo é isso que eu quero. Eu gostaria de ser totalmente direto, seria o maior(em tamanho) post no mundo 'blogístico'.
Imagine só, você(sim, você mesmo, sabe que estou falando de você!) chega aqui, vê seu nome escrito seguido por dois pontos e abaixo todos os pormenores de tudo que tem sido expressado apenas através do silêncio.
Seria revolucionário! Isso sim seria lindo!
Podem me perguntar: Mas assim, tudo publicamente?
E por que não?
Enfim, não farei isso. Apenas escrevi isso porque sei(ou melhor, não sei) até que ponto a imaginação pode nos levar(me leva longe todas as noites).

Engraçado como é possível brincar com a simbologia da palavra 'você' num texto que estará exposto publicamente!
Essas quatro letras ocultam outras, e jamais a revelam! Guardam o segredo de seu real significado eternamente!
O que realmente determina o significado não é a palavra em si, mas sim todo o outro conteúdo a ela referido. O significado se revela no todo, e o todo não é simplesmente a soma das partes.
E o que mais me fascina nisso tudo:
O sentido final só se mostra a quem realmente foi destinado, mesmo que seja na forma de uma dúvida.
Em outras palavras, e brincando com a palavra em questão, posso dizer: O sentindo final só se revela a 'você'.

Todo esse medo de escrever hoje também está relacionado ao fato de eu talvez não conseguir escrever tudo que está aqui, em mim.
Algumas pessoas que me conhecem sabem que não vou muito longe utilizando apenas a fala. Faltam-me palavras, estruturas, um jeito bonito de falar. Isso quando são assuntos objetivos, não relacionados diretamente a mim.
Em casos mais complicados, simplesmente travo, gaguejo e sabe lá o que mais. Dê-me um papel e uma caneta que daí sim eu faço, como estou fazendo agora. Jamais seria capaz de falar o que aqui escrevo.
Mas com certeza seria capaz de escrever muito mais do que aqui está escrito.

Num post que deve ser de 2 meses atrás eu intimei vocês, meus leitores, a enviarem-me um e-mail sendo totalmente diretos comigo, eliminando as "preocupações sociais" e, em palavras mais filosóficas, reduzir fenomenológicamente seu pensamento sobre mim. Recebi apenas um e-mail, de um amigo, não convém expor seu nome.
Ele escreveu muito bem, fiquei feliz por ter recebido.
Quanto aos que leram e não escreveram, o que me desagradou não foi o fato de não terem escrito, mas sim de não terem solicitado para que eu escrevesse sobre eles. Uma 'contra-intimação', se é que posso chamar assim.
Se alguém me fizesse isso, eu ia dizer que o "espírito da coisa" havia finalmente sido compreendido!

Eu estava pensando em falar sobre escolhas hoje, mas isso não faz mais sentido para mim agora.
Então vou abordar um assunto engraçado: acho que vou chamá-lo de misticismo ou superstição.

Um ceticismo extremo. E acontece uma série de coisas que...Diabo! será possível?
A vida as vezes parece comprovar a existência do "gênio maligno" cartesiano. Eu não chamaria de maligno, mas sim de malandro, maloqueiro, um perfeito filho de uma puta!
Quebra aos pedaços seus planos que não tinham como dar errado e...
Espera aí...
Há coisas que acontecem e que... Diabo! tantas coincidências!
Algo bom. Parece que tudo se curva diante de você e, algo que parecia impossível, ali está como real.
Deste modo não seria um "gênio maligno", malandro, maloqueiro, ou filho da puta, mas o "bondoso senhor Deus".
Desculpem-me se atingir seus pensamentos pessoais, o que falarei trata-se unica e exclusivamente da minha opinião.
Eu me consideraria ingênuo de mais caso eu mesmo passasse essa responsabilidade a um ente qualquer e julgasse o caso como explicado.
Eu, hoje, prefiro chamar tudo isso de "acaso" a adquirir um comportamento supersticioso. Mas admito ter um enorme medo desse tal de "acaso".
Para ilustrar, o velho russo:

" 'Nem vão deixar a canalhinha sair!', pensava eu. 'Creio que eles não deixam que elas saiam para passear, ainda mais à noite (por alguma razão eu metera na cabeça que ela deveria vir à noite, às sete horas precisamente).(...)"(Dostoiévski, 1864, p.129)
"Nem ouvi que naquele instante a porta do vestíbulo de repente se abrira, devagar e sem ruído, e uma pessoa havia entrado e ficado ali parada, olhando-nos perplexa. Olhei para ela, fiquei petrificado de vergonha e corri para o meu quarto. Lá, encostei a cabeça na parede, com as mãos agarradas nos cabelos, e fiquei estático nessa posição.
Uns dois minutos depois, ouviram-se os passos lentos de Apollon.
- Tem uma tal aí procurando pelo senhor - disse ele, olhando-me de modo especialmente severo. Depois afastou-se para o lado para deixar passar: Liza! Ele não queria ir embora e ficou olhando-nos com ar irônico.
- Fora! Fora! - ordenei-lhe, sem me controlar. Nesse instante, meu relógio fez um esforço, chiou e bateu as sete horas."(Dostoiévski, 1864, p.134)

Sei que isso é apenas literatura, saiu simplesmente da cabeça do velho russo, foi para o papel e agora eu copio.
Mas quantas vezes isso não está presente em nosso cotidiano? Assusta, não?!
Eu tenho em minha vida algo que se procedeu dessa forma, faz algum tempo já, mas até hoje martela em minha cabeça.(Trairei a mim mesmo se aqui escrever esse caso.)
Tenho certeza que vocês também devem ter algum exemplo na vida de vocês.
Como já dizia Kant, o entendimento o humano não é capaz de entender coisas como essa.
Apenas abordo esse assunto aqui para dar um tom mais questionador na noite de vocês.

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Para finalizar vou descrever um causo que ocorreu hoje comigo. Não comigo, na verdade apenas ouvi. Um tanto quanto cômico. E, a pedidos, estou escrevendo, apesar de não estar suficientemente animado para isso.(Viu, Cristiano, aqui está! Haha!)


Estava eu, logo após o término da minha aula, saindo do prédio histórico da nossa universidade federal do Paraná e fazendo meu caminho rotineiro até os pontos de ônibus da Nestor de Castro. Subindo a São Francisco, vejo logo a frente um casal, ambos por volta dos 50 anos, vindo no sentido contrário ao meu. Encostado na parede, entre eu e o casal, estava o "cuidador de carros", que sempre está lá.
Quando o casal se aproximou do cuidador de carros, este segurou o braço do homem e começou a falar algumas coisas que eu não ouvi. A mulher ficou parada. Olhou para mim e depois para os dois conversando e ficou com uma cara emburrada, parecia que todos se conheciam. O homem começou a rir e saiu andando devagar com a mulher. Neste momento eu já estava quase ao lado dos três. A mulher, séria, vira para o cuidador de carros e diz, em alto e bom som:
-Que história é essa de que eu tenho um "negão"?
Não fiquei para ouvir resposta, apenas continuei andando e achando a situação cômica, ao menos para mim.

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Grato a quem tem lido e comentado por aqui!
mhfrote.


Referências:
Dostoiévski, Fiódor M. Notas do Subsolo, 1864.

2 comentários:

  1. Bem vindo ao mundo dos blogs. A nossa sorte é de não termos muitos que nos leiam a ponto de escrachar-nos de forma ofensiva... às vezes, é o preço que se paga pela exposição.

    O todo é mais que a soma das partes... sim. O todo é feito de convenções sobre coisas básicas cuja interpretação fazemos do modo que mais nos agrade. Ou, pelo menos, que explique a "realidade"... no fundo, todo mundo é igual de um jeito diverso.

    Acaso... muita coisa é pura coincidência; outras, parece que há a mão de algo maior (seja lá o que for) conduzindo para que o resultado seja aquele... destino, talvez. Aindá há muito que se descobrir nesse sentido.

    O causo serve pra animar um pouco, hua :P

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  2. é, meu caro.
    às vzs dizemos que "nem tudo está perdido". Mas será que não está mesmo?
    nem smp podemos ser ou falar o que gostaríamos, mas...... é isso aí mesmo: maldita preocupação social!
    e isso me corrói todos os dias..
    =]

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Mi infierno es su infierno!