segunda-feira, 25 de maio de 2009

Morte Eterna

Esse texto foi escrito em 2007, eu acho. Enfim, eu pensava que já havia postado ele, mas não encontrei no blog, então aí está!
Obrigado a todos que lêem e comentam.
M.H.F.


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Morte Eterna


I

Antes de morrer ele sentiu algo diferente, algo que não havia sentido até aquele momento. Foram 37 anos que passaram e ele percebeu que encontrou a morte durante cada ano, mês, dia, hora e até mesmo segundo de sua vida. A morte estava lá. Cada segundo que passava ele morria. A morte era rápida e nada dolorida, talvez por isso imperceptível. É uma doença incurável que todos têm, mas a maioria não percebe.
Ele vivia momentos incríveis, mas estes terminavam. Tentava recuperar a memória de dias que poderiam ser chamados de "inesquecíveis", mas elas vinham deterioradas, sujas, e falhadas. Nunca aceitou isso, e nunca parou de pensar na morte, sem saber que já padecia e morria cada vez mais.
Quando realmente chegou a morte em que tanto pensava, ele sentiu angustia e perguntou para um senhor que aparentava uns 73 anos.
-É assim? É assim que tudo acaba?
-Não. - Respondeu o velho com uma voz rouca, similar a de fumantes.
-Como assim? Então como é? Eu estou morrendo agora! E você me diz que isto não é o fim, e que não é assim que tudo acaba?! Você quer dizer que este não é o fim?
-Não sei.
Irritado com as respostas curtas nosso jovem moribundo se exaltou.
-Ora! Basta de respostas inúteis! Você sabe tanto quanto eu! Isto é, não sabe NADA!... - hesitou e, mudando a expressão furiosa para um semblante confuso e ao mesmo tempo assustado, perguntou - Ou sabe?
-Talvez. - Também hesitou por alguns segundos mas respondeu com convicção e sem alterar a expressão arrogante, com um sorriso irônico - Quem diz o que eu sei ou não sei é você!
-Ah! É fácil assim? Então quero que você saiba de tudo! - Disse após uma gargalhada que durou uns 5 segundos.
-Pois então eu sei tudo.
Um longo silêncio rompeu o diálogo, e ao mesmo tempo assombrou o jovem. Ele não sabia muito bem quem era aquele velho e aquele ambiente, embora parecesse familiar, era um pouco angustiante. Não possuía ventilação alguma e o ar abafado as vezes impedia a respiração espontânea. Havia também uma mesa junto da cadeira em que aquele senhor sentava-se. Aquela parecia muito antiga e pouco usada.
Para querer assustar e chamar a atenção do velho, ele resolveu arremessar um soco contra a mesa, porém quando o fez, subiu uma poeira a qual fez com que ele se afogasse. Sentiu-se febril e doente.
-Você não sabe o que vai acontecer agora, certo? - Disse o velho inesperadamente, com tom de início de um longo discurso, porém parou ali mesmo.
-É óbvio que não sei. Se soubesse não lhe perguntaria.
-Claro, claro, é claro! Você é realmente medíocre.
-Ah, eu sou medíocre agora!? É, talvez seja sim. Ou até mesmo idiota de esperar respostas de um velho como você.
Levantando-se da cadeira, o velho chegou bem próximo do jovem e encarou-o de perto, olho a olho. O idoso senhor parecia muito irritado, mas em contradição a aparência, ele falou calmamente.
-Não planejou nada para este momento, não é?
O jovem ficou realmente amedrontado. Sentia-se estranho. Tinha medo de que o velho lhe atacasse de alguma forma, mas não entendia isto, pois nada tinha a temer já que estava praticamente morto.
-Não... - respondeu com a voz tremula.
-Você planejou tudo em sua vida. Estudar, fazer uma faculdade, trabalhar para conseguir uma estabilidade financeira, casar e criar uma família, certo? - e antes de receber a resposta foi continuando o discurso. - Sim, sim, sim, sim, que maravilha! Tudo isso se concretizou! Qual será o motivo, hein?
-Eu...e-eu não se..
-PORQUE VOCÊ PLANEJOU TUDO! - Exaltou-se o velho interrompendo a resposta gaguejada do jovem. - Você teve seus sonhos, suas ilusões. E durante toda sua vida viveu os mesmos sonhos e ilusões. E porque agora não continua criando sonhos e ilusões? Você quis morrer, estava nos seus planos. O problema foi que você parou por aí, e agora? Quer que alguém escreva um destino pra você após a morte que VOCÊ escolheu ter? Pelo visto além de medíocre você é ignorante! - demorou um tempo, olhou para um antigo relógio de prata escurecida no pulso e continuou - Pois então, agora é a hora da morte.
O jovem não sabia o que falar e nem em que pensar. Milhões de coisas passaram pela cabeça dele e a sensação febril agravou-se. Sentiu também uma forte pressão nas laterais da cabeça e a vista foi apagando lentamente. Quando recuperou a visão o velho havia desaparecido e os sintomas foram voltando gradativamente até que só existiu a escuridão, um forte calor, e uma agonizante sensação de sufocação.
E ele morreu.

II

Quando digo que ele morreu, é porque ele realmente morreu. Morreu em um pesadelo durante a madrugada fria do dia 21 de junho. Sentiu-se aliviado ao se ver na cama e na casa em que sempre viveu. A esposa dele ao lado, dormindo.
Quando achou que todo aquele terror do sonho havia terminado ele lembrou que morria a cada segundo que passava. Sabendo disso sentiu a mesma dor de cabeça que sentiu antes de "morrer" no pesadelo. Tentou pensar em como evitar essa morte, e não chegou a conclusão alguma já que o tempo corrompia a vida. Então tentou pensar em como aproveitar melhor, já que morria de segundo em segundo, ele teria que aproveitar cada um. Descobriu que ele apenas não deveria pensar e simplesmente viver.
Sentiu uma enorme alegria ao saber que poderia viver mais, e colocou levemente a mão sobre o ombro da esposa com o objetivo de acorda-la, e teve êxito. Ela, sem entender muito, olhou para ele com esforço. Ele a abraçou com entusiasmo e disse.
-Eu amo você!
Ela, continuando sem entender, disse que também o amava e falou que ele deveria dormir. E assim, ela voltou a se entregar ao sono.
Já ele, sem deixar de abraça-la, não teve vontade alguma de dormir. Apenas sentia uma intensa força e animo para viver, sem perder um segundo sequer.

segunda-feira, 6 de abril de 2009



Talvez...

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Mudas mudanças

Não adianta
querer voltar para aquele lugar
onde você passou ótimos momentos.
Mudou...

Não adianta
querer rever aquela pessoa
que era tão querida e amiga.
Mudou...

Não adianta
querer sentir aquela mesma coisa
que sentiu quando recebeu aquele olhar.
Mudou...

O sentimento mudou; o olhar mudou.

As pessoas mudam
e apenas deixam as memórias.

Estas não mudam, infelizmente.
Permanecem para torturar-lhe.

Tudou mudou!
E o que mais precisava mudar...
...Não mudou!

Quando conseguirei parar de pensar nisso?