quarta-feira, 12 de maio de 2010

Myltho Anselmo da Silva

Ah, aquela rua, aquele vento frio, e o poste de luz.
Eu tenho muita dificuldade de expressar as coisas falando, sempre prefiro escrever. Mas há coisas que nem escrevendo eu consigo atingir o ponto certo.
Esta noite eu estava parado esperando o ônibus. Era uma rua totalmente vazia, o movimento mais próximo era um bar, mais ou menos 200 metros dali, com pessoas alimentando diversos vícios. Não era na região central, o que tornava as coisas melhores.
O frio estava ali comigo, chegava mais perto quando vinha o vento.
A escuridão também estava ali, mas um poste se esforçava para não me deixar na escuridão total. Coitado, talvez a escuridão seria melhor do que aquela luz amarelada. Que iluminação depressiva!!
Carros que passavam em intervalos espaçados de tempo quebravam o silêncio, mas eu o mascarei utilizando meus fones de ouvido.
Lá fiquei, por vários minutos, observando folhas secas no chão, restos de uma pinha, o asfalto seco e as luzes de algumas casas distantes, que apagavam, acendiam, e apagavam novamente.
Fiquei em contato com aquele mundo, que está sempre ali, todos os dias naquele horário, havendo pessoas lá, ou não.
O céu estava estrelado mas com algumas nuvens que, ora rastejavam para onde o vento as levava, ora sumiam.
Arrependo-me não ter procurado a Lua.

De longe pude enxergar os faróis daquele ônibus amarelo virando a esquina. Não me importei qual ônibus era, todos os três que passam ali levam-me para casa. Estendi meu braço.
Quando estava mais próximo, eu pude ler o letreiro: Raposo Tavares. Quem foi ele? Um bandeirante, certo?! Não importa. O ônibus estava lá, parado.
Na verdade não estava completamente parado, a porta foi abrindo e o ônibus ainda estava freando. Tentei subir antes dele parar totalmente, preciso de aventuras em minha vida. Não tive muito sucesso. Digo, eu consegui subir com ele ainda em movimento, mas não foi uma aventura.

Entrando naquele ônibus senti-me vivo novamente(e isso não é bom). Como se estivesse voltando ao planeta.
Aquele ar quente, que poderia na verdade chamar de "bafo", pelo fato de 90% das janelas estarem fechadas, aqueles rostos que te olham como se dissessem: "Tem algo para me oferecer? Não? Então não me aborreça."
Não vou dizer que eu não estava com uma expressão amarga, mas pelo menos nos meus olhos estavam outras coisas. Mas ninguém olha para os olhos.
O ônibus partiu e aquela rua continuou lá, agora sozinha, mas estava lá. Afinal, ela pertence ao mundo, e o mundo, segundo Merleau-Ponty, é real e já está lá, antes da idéia de mundo.

Mas a fenomenologia não me ajuda em nada nessas horas que lembro da rua.
Aquela rua não significou muito para mim, na próxima quarta-feira estarei lá novamente.
O que me faz escrever tanto da tão elogiada rua não é ela sim si, mas o que ela me estimulou a pensar naquele momento.
Será que na próxima semana também verei seus olhos por lá?

Um comentário:

Mi infierno es su infierno!